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quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A morte.

Estava me devendo essa postagem. Precisava colocar pra fora de alguma maneira o que eu tento ser forte e esconder dentro de mim. 

Não existe sentimento que descreve qual é a sensação de perder alguém. 

Nunca havia perdido ninguém da minha família. E estranho foi há alguns dias atrás, quando eu estava passando em frente a uma Central de Velórios comentei com meu namorado: "Acho que alguém vai morrer. Tô com essa sensação, faz uns dias...". 

Não! Eu não sou adivinha e não previ isso. E aí meu namorado me diz: "Caramba, eu também tô com essa sensação."

Nessa mesma semana, eu iria ver o meu avô pela última vez. E nem imaginava que ele iria tão cedo. 




Meu avô, era uma figura. Tinha 78 anos e não tinha absolutamente nenhum problema, além de ser um pouco 'gaga' por causa da idade, normal. Mas tirando o humor inconstante, ele era um ser humano maravilhoso.

Vô Antônio ia ao Parque Solón de Lucena (Lagoa), era o seu divertimento. Sempre, depois do almoço, ele se perfumava, penteava seus cabelos brancos e ia feliz pegar um ônibus para o seu point de todos os dias: o banco, em frente as Lojas Esplanada. 



Vô, sempre mulherengo, me dizia que ia até a Centro porquê gostava de ver as mulheres bonitas. Gostava de pegar os panfletos das lojas só para distribuir e pegar nas mãos das moças enquanto as entregava, e quanto mais novinhas, melhor.

Outro comportamento marcante do meu avô, era a pontualidade. Perdi as contas de quantas vezes ouvi dele um: "Olha a hora, Mayara!" Chegava a ser irritante. Ele sempre lembrava dos horários e compromissos de todos os que estavam próximos a ele. Às vezes, quando por acaso eu adormecia lá na casa dele no meu horário de almoço, ele me acordava aos gritos, me chamando de todo nome que não presta, só porque eu corria o risco de chegar atrasada. Vô, como o senhor deve me esculhambar onde quer que esteja, até hoje... Rs.

Me lembro de como ele ria de mim, quando eu tinha que repetir as coisas gritando 3 ou 4 vezes para ele conseguir ouvir. 

Me lembro dele preocupado com quem irá ficar com a herança mais preciosa dele: "os fogos". É... Seu Antônio ainda tinha tempo para vender fogos no São João. E como ele já não tinha estrutura para passar trocos corretamente, dentre outros problemas, ele falava o tempo todo: "Quem vai ficar responsável pelas vendas dos fogos? Quem vai enfeitar o meu bazar (que era o local onde os fogos ficavam)?". 

Ah, mas tinha uma coisa mais preciosa que os fogos: o baú. Esse baú era tudo pra ele. Quando por acaso alguém fosse limpar o local onde era guardado o baú, aí o bicho pegava... Ele ficava enfurecido, porquê achava que iam roubar o baú cheeeeio de dinheiro (peeeense, rs) dele. 



Lembro-me de quando ele se declarou para minha vó, apesar de todas as esculhambações diárias, que sempre fizeram parte do casamento deles... Meu avô, em seu ato de romantismo, disse: "Ivone... O meu baú é seu e o seu vestido é meu, porquê o que é seu é meu e o que é meu é seu." Como eu ri... Ele achava que o vestido era importante o bastante para minha vó, como o baú era pra ele. Mas aquela era a maneira dele ser romântico, e eu aprendi a enxergar o comportamento das outras pessoas, relativizando o contexto delas. E meu avô até que era bem moderno para o contexto onde ele nasceu.

Eu estudei 7 anos da minha vida em um colégio militar, além de ser filha de um militar e de ter tios militares. Por esses motivos, vô dizia que já era para eu e a minha irmã sermos tenentes há muito tempo. Como era engraçado, quando meu avô falava sério comigo, me dizendo que era o único caminho bom para mim, que eu tinha que ser PM, porquê era muito bonito uma mulher PM e era a única profissão que prestava. Era nítido o sinal de preocupação no rosto de vô, quando eu ria dele enquanto ele falava sobre isso. Ele tinha extrema admiração e respeito por policiais. Imagino como ele deve ter ficado feliz ao saber que o cortejo do seu enterro foi feito com escolta militar.



Só tenho boas lembranças, só tenho saudades.

Ele começou a se internar com frequência no hospital, e da última vez, foi por não ter urinado há pelo menos umas 24 horas, além de estar muito abatido. Ele estava mais magro do que o normal, muito desidratado e fraco, pois já não se alimentava como antes, graças a uma dieta que ele teve que seguir devido a uma gastrite que lhe causava muitas dores fortes. Passou uma noite na UTI, e no outro dia foi transferido para o quarto. Estava tomando nebulizações de 2 em 2 horas com Berotec e sempre adormecia, nas nebulizações. Até que em uma delas, teve várias paradas cardíacas... E se foi.

Não quero culpar ninguém. Deus sabe todas as coisas e eu agradeço a Ele por tudo.

Mas como é a vida, né gente? Nós só temos dimensão nessas horas. É só uma passagem, uma passagem rápida. Não é preciso ficar dando muito valor a dinheiro, ficar se matando aos poucos porquê não vamos levar nada daqui. É preciso aproveitar, não ficar deixando nada para depois. Isso sim. Fazer o que tiver vontade mesmo, dizer o que tem que ser dito e acabou. 

"Há males que vem para o bem", não é verdade? Essa morte do meu avô, me fez enxergar a vida de uma outra maneira e que bom que eu tive oportunidade de enxergá-la assim. A ida de um ente querido, aproxima a morte da gente... Sei lá, traz uma sensação horrível de que a qualquer hora pode acontecer novamente. A morte, era tão distante, que eu quase não contava com ela. Mas ela é real, implacável, leva mesmo e nós? Nós temos que continuar. E como é difícil continuar, a vontade que dá é de ir com eles... Parar por aqui.

Vai em paz Vô Antônio, eu te amo. Vai ser difícil olhar para sua cadeira e vê-la vazia todas as tardes...




Eternas saudades de sua esposa, de seus 12 filhos, 25 netos, 2 bis-netos(a) que estão a caminho e de todos que tiveram a honra de te conhecer um dia.

Um comentário:

  1. OI MAYARA ADOREI SUA PUBLICAÇAO SOBRE A MORTE,EU JA TIVES MUITAS VESES ESSAS SENSAÇOES E ORRIVEL VOÇE ACHAR QUE ALGO RUIM VAI ACONTECER.SO QUE NO MEU CASO ACONTECEU MESMO.PARABENS PELA SUAS PUBLICAÇOES.

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